
Jorge Cavalcanti
Por onde andei, o que já fiz e o que quero com este espaço
“Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã”.
Era esta a minibio que assinava os textos que produzi, como freelancer, para a Marco Zero, esse veículo de jornalismo independente tão importante para Pernambuco e o Nordeste brasileiro. A colaboração se estendeu pelo período de dois anos e dezenas de matérias.
Na companhia do editor Inácio França, ficamos entre os finalistas do prêmio Mosca de Jornalismo 2024, com a série de reportagem O que João Campos não conta sobre as creches do Recife. O trabalho se desdobrou em cinco matérias e uma auditoria no Tribunal de Contas do Estado.
Para este projeto que agora tem início, o Política com Opinião, preciso ir além na tarefa de me apresentar. Falar mais sobre mim, pelos lugares por onde andei, o que fiz ao longo de duas décadas e o que desejo com este espaço.
Então lá vou eu!
Iniciei minha trajetória no Sistema Jornal do Commercio de Comunicação no final de 2004. Foram dez anos em que eu aprendi e fiz muita coisa. No JC, passei pelas editorias de Política e Cidade. Fui estagiário, repórter, fechei edições e assinei coluna. Na TV Jornal, fui produtor do TV Jornal Meio Dia.
Era empolgante trabalhar numa redação viva, na companhia de profissionais que eu – ainda estudante – tinha como referência.
Como estagiário, em 2005 tive minha estreia numa grande cobertura: a internação de 59 dias em UTI hospitalar e o sepultamento de Miguel Arraes, 88 anos. Lembro-me que fiquei impressionado com o carinho por ele de pessoas simples.
Estive na rua na cobertura de cinco eleições e duas enchentes que espalharam lama, desabrigados e prejuízos por cidades da Mata Sul pernambucana.
Vi de perto uma greve de policiais militares cujo desfecho foi dezenas de lojas do centro comercial de Abreu e Lima, no Grande Recife, inteiramente saqueadas.
Acompanhei dezenas de manifestações populares e atos contra o aumento da tarifa de ônibus. Em muitos casos, sob repressão policial.
Notei o desespero de mães em rebeliões que sacudiram unidades prisionais e senti o cheiro de gás de pimenta em ações de reintegração de posse de terrenos ocupados por gente pobre.
Despedi-me de grandes coberturas pelo JC nas eleições gerais de 2014. Aquele pleito foi marcado, entre outras coisas, pelo acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos e mais seis pessoas.
Arraes e Eduardo, avô e neto, ambos ex-governadores de Pernambuco, partiram no mesmo dia: 13 de agosto.
Eu era um dos repórteres que estavam espremidos num espaço delimitado por fita zebrada, na pista do Aeroporto dos Guararapes, à espera do avião da FAB que trazia os restos mortais de Eduardo e outras três vítimas. Dali, acompanhei o cortejo que costurou o Recife, tendo o Palácio do Campo das Princesas como ponto final.
Após o resultado das eleições daquele 2014, recebi uma proposta para atuar “do outro lado do batente”. Era assim que falávamos quando algum colega deixava a redação para ir trabalhar em assessoria de imprensa.
E lá fui eu ser assessor parlamentar do primeiro deputado eleito pelo PSOL em Pernambuco, Edilson Silva. Foram dois anos na Assembleia Legislativa, espaço que eu já acompanhava como repórter setorista.
Neste período, decidi me filiar ao PSOL e aprofundar meu vínculo com as pessoas, organizações e movimentos que nele atuavam. Foi a primeira e – até agora – única experiência partidária que tive.
Nas eleições municipais de 2016, me envolvi na organização da campanha que elegeu o jornalista Ivan Moraes vereador do Recife.
Àquela altura, Ivan já era reconhecido como um cara dos Direitos Humanos. Tornou-se o primeiro vereador do PSOL no Recife. Estive ao seu lado nos três primeiros anos do primeiro de dois mandatos que qualificaram o debate político daquele espaço.
Pouquíssimas pessoas sabem, mas depois que deixei a Câmara do Recife fui nomeado para cargo em comissão pelo então prefeito Geraldo Julio (PSB). Aceitei o convite do seu então secretário de Imprensa para trabalhar na cobertura do Carnaval do Recife de 2020.
Passado o festejo de Momo, veio a minha exoneração, conforme o combinado, e a pandemia do Covid e todas as suas incertezas. Na eleição municipal daquele ano, trabalhei na campanha da então candidata do PT Marília Arraes a prefeita do Recife.
Dois anos depois, tive a primeira experiência profissional numa campanha da direita. Instalei-me na Paraíba para trabalhar na candidatura a governador de Pedro Cunha Lima (PSDB).
No jornalismo independente, me orgulha muito ter feito parte da equipe que denunciou a letalidade policial, numa parceria entre o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e a Marco Zero.
Quando a morte veste farda mostrou a dor de famílias do Recife que perderam seus filhos. Nenhum deles tinha antecedentes criminais ou portava arma ou droga quando foram executados por PMs em serviço, com munições compradas com dinheiro público.
Fui colaborador da Escola Livre de Redução de Danos, organização social com sede no Recife que atua com pessoas em situação de vulnerabilidade. Nela, aprendi sobre as barreiras estruturais que impedem o acesso à dignidade de populações e territórios estigmatizados.
Também fui um dos organizadores da Marcha da Maconha do Recife, esse movimento que é atacado por setores reacionários por fazer uma discussão mais profunda sobre a atual política sobre drogas.
Tive assento no Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e Outras Drogas (Compad) na representação da sociedade civil e entendi melhor a importância do controle social na formulação e execução de políticas públicas.
Todas as experiências profissionais que tive na vida compuseram o mosaico de quem sou hoje e a forma pela qual compreendo o mundo. Por isso, achei necessário o nome do blog ter em destaque o “opinião”.
Neste espaço você encontrará informações. Mas, sobretudo, minha interpretação dos fatos. Política com opinião porque os atos carecem de análise. Tão importante quanto as palavras é a intenção de quem as pronuncia.
Política com opinião e também memória. Ontem e hoje são inseparáveis, o fio que tece a história e aponta o futuro.
Vem comigo!