Falta pouco para as eleições gerais, quando dois terço do Senado, a Presidência da República e os governos estaduais estarão em disputa. E o que nós, do campo democrático, apresentaremos como propostas para a segurança pública? Qual o conjunto de medidas que vamos defender para fazer frente ao discurso da extrema direita, de populismo penal e gatilhos que acionam sentimentos como revolta e medo?
Falar da importância dos Direitos Humanos ou se opor à violência policial que afeta desproporcionalmente pessoas pretas e pobres já não é suficiente, se é que foi um dia, para – digamos – furar a bolha, em que pese o caráter civilizacional desses temas.
A edição mais recente do Anuário Brasileiro de Segurança Pública traz um destaque para os roubos e furtos de celulares. Quase um milhão de ocorrências foram registradas em 2023. Há uma relação, no imaginário popular, desse tipo de crime com a possibilidade de ocorrência de outro mais grave: o latrocínio, que é o roubo seguido de morte.
Valendo-se disso, a extrema-direita fez viralizar a distorção de uma declaração de Lula sobre letalidade policial. A grosso modo, ele disse que não era aceitável um jovem suspeito de ter roubado um celular ser morto pela polícia por conta disso.
Declaração sensata, que foi pela extrema-direita distorcida e fundida a outra frase dita por Lula, de que o povo voltaria a comer picanha.
Pronto, está formado este “Frankenstein ideológico”: o bandido, que a esquerda diz ser vítima da sociedade, na verdade, rouba celular para comer picanha e tomar cerveja.
Esta é uma das armadilhas que precisam ser desarmadas no debate eleitoral. Daí que eu volto a perguntar: o que nós vamos propor nas eleições de 2026 para a segurança pública?
A pergunta que dá título a este texto deriva da constatação de que o campo democrático, de que faço parte, tem dificuldade de debater, formular e propor sobre segurança pública. Obviamente, a afirmativa não cabe para as organizações da sociedade civil que atuam no tema. Estas, sim, têm produzido bastante.
Refiro-me a figuras públicas que disputam mandatos e a partidos que se localizam publicamente no campo da “centro-esquerda”, como PT, PSOL, PSB, PDT e PV.
São poucos os parlamentares que fazem da segurança pública agenda central da sua atuação parlamentar. Citaria, aqui e agora, Renato Freitas (PT) em Santa Catarina e Renato Roseno (PSOL) no Ceará. No Congresso Nacional, há figuras como o senador Fabiano Contarato (PT-ES) e a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ). Precisamos, porém, de mais.
Pela extrema-direita, são muitos os políticos que encontraram no populismo penal e reacionarismo descarado um meio de fazer política. Respondem à demanda das pessoas por segurança ao mesmo tempo que degradam o debate público da agenda.
Nós, do campo democrático, precisamos de um repertório de boas propostas que melhorem estrutural e institucionalmente o Estado brasileiro (União, estados e municípios) e também dialoguem com as necessidades e sentimentos das pessoas de carne e osso, que vivem sem a proteção do capital ou de outra forma de poder.
Este é o texto de estreia do Política com Opinião. Quis falar deste tema pela relevância que dou a ele como cidadão e jornalista, mas também porque considero que ele será um dos destaques das eleições gerais de 2026.
Mais à frente, pretendo fazer outro. Desta vez, elencando propostas que podem e devem ser encampadas por quem vai disputar o jogo vestindo a camisa do campo democrático.