Quem frequenta o Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, deve ter notado que há poucos dias uma área foi isolada por tapumes. É o fim do desenho do parque tal qual o conhecemos há, pelo menos, duas décadas. O trecho que está cercado fica na face voltada para a Avenida Rui Barbosa, onde está construída – por enquanto – a pista de obstáculos. Essa será a primeira intervenção significativa no parque, desde que ele foi repassado à iniciativa privada.
A pista de obstáculos é por onde o indivíduo caminhava ou corria subindo e descendo alguns lances de escada e rampas em alguns pontos do circuito. É um equipamento cotidianamente utilizado por pessoas de perfis variados.
De aparência modesta, a pista de obstáculos tem impacto positivo na saúde, sobretudo em pessoas de mais idade. Entre os benefícios para quem a utiliza, por exemplo, está a melhora da condição cardiorrespiratória e vascular. Os movimentos de subir e descer escadas e rampas impulsionam o retorno do sangue venoso (pobre em oxigênio) ao coração e aos pulmões.
Além das pessoas que faziam caminhada e corrida, a pista de obstáculos era regularmente utilizada pela juventude praticante de Parkour que frequenta o parque há anos aos sábados à tarde.
Uma invenção simples e eficiente
Há uma história interessante por trás da pista de obstáculos. Ela foi ideia de André Ricardo, conhecido por André Inventor. Como o sobrenome diz, ele trabalha – literalmente – com invenções. Abaixo, reproduzo trecho da carta que ele fez circular pelo WhatsApp.
“Foram meses de pesquisas, testes, subidas e descidas de escadarias, entrevistas com moradores do Morro da Conceição e de outras comunidades, além de inúmeras conversas com médicos cardiologistas, ortopedistas, angiologistas, fisioterapeutas e profissionais de educação física.
Com esse embasamento, preparei o projeto e fui bater de porta em porta. Foram muitas tentativas, até que em 2001, consegui apresentá-lo ao secretário de saúde do Recife. E, em 2003, a ideia se tornou realidade com a implantação da primeira pista com obstáculos no Parque da Jaqueira, e logo depois, no 2º Jardim de Boa Viagem”.
A pista de obstáculos completou, portanto, duas décadas. Foi construída no primeiro mandato do então prefeito do Recife João Paulo (PT).
André Inventor finaliza sua carta-desabafo com uma indagação:
“Esse equipamento, que há duas décadas serve à população, está sendo demolido sem diálogo com a sociedade e sem qualquer alternativa equivalente. Por que destruir o que funciona, em vez de replicar essa ideia por toda a cidade?”
E o que será feito daquele pedaço do parque?
Ninguém sabe ao certo, pois não há placa indicativa. Em março deste ano, além da Jaqueira, os Parques Santana, Apipucos e Dona Lindu foram concessionados à empresa Viva Parques Recife. Quem melhor escreveu sobre isso, na minha opinião, foi a jornalista Maria Carolina Santos, repórter da Marco Zero. Leia aqui e aqui.
Poucas semanas antes do início da gestão privada, tive a oportunidade de entrevistar o diretor comercial da empresa para uma matéria publicada no G1 Pernambuco.

Na ocasião, ele havia me dito que, onde agora está isolado por tapumes, seria construída uma pista de bicicross, menor, em substituição à que existe desde a inauguração do parque, que está com os dias contados.
Quatro meses se passaram desde o dia em que fui recebido na sede da empresa, situada num empresarial na Avenida Conde da Boa Vista. É possível, sim, que a concessionária tenha mudado os planos e agora pretenda dar outra destinação àquele trecho. Em breve, saberemos.