Era maio de 2025 quando um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), com desinformação sobre o Pix, ultrapassou a impressionante marca de 100 milhões de visualizações em 24 horas.
No ponto baixo da gangorra, soterrado pela viralização da mentira, o governo Lula precisou anunciar a revogação da medida da Receita Federal que elevaria o rigor no combate à lavagem de dinheiro.
Ali acontecia também o ápice da “crise de popularidade” do presidente Lula. Pesquisas de opinião apontavam a curva ascendente do indicador de reprovação.
Estava consolidada a análise de que o governo Lula 03 tinha problemas na comunicação, sem capacidade de dar respostas aos ataques ou de visibilizar suas ações, até mesmo as acertadas.
De lá para cá, passaram-se apenas 05 meses. Mas a situação do governo e do presidente mudou completamente. É Lula quem, agora, dita o ritmo da sucessão de 2026. A começar pelo fato de, hoje, o Centrão ou a extrema-direita não ter um candidato competitivo.
O nome mais forte, Tarcísio de Freitas, parece ter recuado da pretensão presidencial. Tende a escolher o quase certo (reeleição ao governo de São Paulo), em vez do razoavelmente duvidoso (derrotar Lula).
O tarifaço de Trump com o apoio dos Bolsonaro, a insistência na pauta da anistia, o surgimento da famigerada PEC da Blindagem e a decisão da Câmara de não taxar bancos, bilionários e bets.
Tudo isso, junto e misturado, possibilitou um novo slogan; este, sim, conectado ao contexto: “o Brasil é dos brasileiros”. Daí que o governo aprumou a comunicação e ligou a seta para a esquerda, em que pese a não indicação de uma jurista negra ao STF.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, no Supremo Tribunal Federal e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) na Secretaria-Geral da Presidência da República são duas escolhas que não têm, necessariamente, correlação entre si.
Boulos ministro, porém, pode ajudar a superar a insatisfação gerada com a indicação de Messias ao STF.
É verdade que parte da base pró-Lula não gostou da escolha. Será a terceira vez que o presidente tem a chance de propor uma jurista negra ministra do STF. E vai acabar optando por um auxiliar da sua confiança. De novo.
Mas é verdade também que este segmento social, mesmo com críticas, tende a apoiar Lula quando o calendário marcar 2026 e a direita subir no palanque.
A Secretaria-Geral da República é a interface do governo com a sociedade civil organizada. Boulos tem traquejo com movimentos sociais. Pode ajudar a superar essa insatisfação, levando o governo mais à esquerda – nos discursos e nas ações.


