Opinião por João Carvalho*

A sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado escancarou um problema grave: o desrespeito às mulheres na política. O que deveria ser um debate sério sobre a Lei Geral do Licenciamento Ambiental virou uma sucessão de ataques e grosserias contra a ministra Marina Silva.

Quem presidia a sessão era o senador Marcos Rogério (PL-RO), que errou em faltar com o respeito a Marina e às mulheres quando disse o “ponha-se no seu lugar”. Ele interrompeu Marina várias vezes e chegou a cortar o microfone da ministra. Depois, tentou justificar dizendo que falava do papel dela no governo. Não colou. A fala se mostrou autoritária. E Marina respondeu com firmeza: “Eu tenho educação, sim. O que o senhor gostaria é que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou. Eu vou falar.”

Outro ataque veio do senador Plínio Valério (PSDB-AM). Ele disse que respeitava “a mulher”, mas não “a ministra”. Explicou que, ao olhar para Marina, via apenas “uma ministra”, como se isso tirasse dela o direito ao respeito. A frase é ofensiva e reforça a ideia de que mulheres, quando ocupam cargos de poder, deixam de merecer o mesmo tratamento que os homens. Pior: o mesmo senador já havia dito, em outro momento, que era difícil ouvi-la sem “enforcá-la”. Um absurdo tão grande quanto o voto de Jair Bolsonaro na sessão que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. Merece ser repudiado com toda força.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) acusou Marina de atrapalhar o desenvolvimento do país e questionou sua ética. As interrupções e o tom agressivo se repetiram o tempo todo, deixando claro que o objetivo ali não era debater ideias, mas enfraquecer a posição da ministra e atacar a mulher Marina Silva.

Diante desse cenário, a representante do Estado brasileiro decidiu sair da sessão. Antes de ir embora, deixou claro que não aceitaria ser desrespeitada: “Não é pelo fato de eu ser mulher que vou deixar as pessoas atribuírem a mim coisas que eu não disse.”

Esse episódio mostrou um problema antigo, estrutural: a violência que ainda existe com mulheres que ocupam cargos de liderança, principalmente quando elas falam com firmeza, defendem suas ideias e não se curvam a pressões. O que aconteceu no Senado não foi uma discussão acalorada. Foi uma tentativa de silenciar uma mulher em posição de destaque.

Casos assim mostram como a violência política de gênero ainda está presente — às vezes de forma sutil, outras de maneira escancarada. Quando uma mulher é atacada por exercer sua função, o recado que fica é que o espaço público ainda não é seguro para todas. Isso não pode ser tratado como normal.

Precisamos agir. Passar pano para esse tipo de comportamento é admitir que o machismo permaneça tendo lugar garantido dentro das instituições. É reforçar a mensagem de que mulheres incomodam por sua vozes e ideias. E que o silêncio delas é mais importante do do que suas propostas.

Marina resistiu. Mas resistir não pode ser a única opção. É preciso transformar. Enquanto ataques como esse forem tolerados, o que estará em ameaça não é só o lugar das mulheres na política — é a própria democracia.

*Jornalista, mestrando em Ciências da Religião, tem passagens por várias emissoras de TV, jornais, rádios e sites. Atualmente, dirige a TV Conecta Recife.