A agenda na capital pernambucana do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) teve duas dimensões, uma pública e outra reservada, como é comum às lideranças políticas. Os compromissos públicos da quinta-feira (7) já foram noticiados. Trato aqui da agenda reservada, cujo ponto alto foi o encontro com a governadora Raquel Lyra (PSD) no Palácio do Campo das Princesas.

Em pauta, a construção de um conjunto habitacional de interesse social no bairro do Cordeiro, zona oeste da cidade. Participaram da reunião com a governadora apenas lideranças do MTST. A um conjunto de filiados do PSOL, foi repassada a informação que agenda de Boulos foi pelo movimento social, e não pelo partido.  

A reunião com Raquel Lyra aconteceu à tarde. Pela manhã, Boulos, a vereadora do Recife Jô Cavalcanti (PSOL) e sua equipe visitaram a área onde serão construídas as unidades habitacionais. A comitiva foi recebida pela secretária estadual de Habitação, Simone Nunes.

O projeto prevê o beneficiamento de 350 famílias. O terreno fica ao lado do Parque de Exposições de Animais. Ali perto há uma ocupação do MTST.

À tarde, Boulos esteve em ato na UFPE FOTO JC Mazella

Nas entrelinhas, um descompasso

O PSOL vive um momento de divisão interna que já não é propriamente novidade. Desde o ano passado, fala-se na possibilidade da deputada Dani Portela sair do partido. Ela e Jô pertenceram ao mesmo agrupamento, mas não estão mais consensuadas. Tanto é que Dani não acompanhou a agenda de Boulos no Recife. No mesmo dia, realizou uma audiência pública pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. 

Foi o próprio Guilherme Boulos quem deixou transparecer publicamente outros descompassos das questões internas do PSOL. 

Na entrevista que concedeu ao programa Folha Política, da Rádio Folha, ao ser indagado pela jornalista Betânia Santana sobre 2026 em Pernambuco, Boulos sequer citou o nome do pré-candidato ao governo do partido Ivan Moraes.

O “esquecimento” veio acompanhado de críticas ao prefeito João Campos e uma postura de cordialidade em relação à governadora. Aqui reproduzo um trecho (a partir do minuto 36 do vídeo).  

Não é factível imaginar que o PSOL vai apoiar João Campos ao governo do Estado. Ele (João Campos) apoia e defende o presidente Lula, assim como eu imagino que a Raquel vá apoiar e defender o presidente Lula. Eu imagino que o presidente Lula vai ter dois candidatos ao governo defendendo a sua reeleição. É natural que o PSOL coloque nomes em debates, todos os partidos fazem isso. Agora o projeto do prefeito João Campos não é um projeto do qual o PSOL faça parte”.

Postura de Boulos pegou mal em parte do PSOL

Movimento social vive de luta e também de entrega. Esta máxima ajuda a explicar a forma como se comportou Guilherme Boulos no Recife. Transformar em realidade um conjunto habitacional para abrigar quem faz ocupação é uma grande conquista para um movimento por moradia. E isso justifica o tom ameno que Boulos adotou quando se referiu à governadora. 

O que parte dos filiados do PSOL não aprovou foi o silêncio em relação à pré-candidatura ao governo do partido. O deputado federal do PSOL cumpriu agenda no Recife acompanhado de Jô, que é o nome da legenda ao Senado, tão pré-candidata quanto Ivan, que estava fora do Recife. Por isso, a postura de Boulos foi mal vista.

A interpretação foi a de que, ao deixar de citar propositalmente o nome da sigla ao governo, Boulos expôs sem necessidade parte da militância do partido e o próprio Ivan.

No Palácio do Campo das Princesas, a leitura da reunião com Boulos foi a de que o evento não foi algo extraordinário. A governadora já sentou à mesa com o MST quando prefeita de Caruaru. Na ocasião, ficou decidido que a produção do movimento abasteceria a merenda escolar da rede de ensino municipal.