O anúncio do resultado final das eleições internas do Partido dos Trabalhadores atrasou. Mas já é possível tecer algumas avaliações. A principal delas é que o senador Humberto Costa perdeu politicamente o processo. Ajudou a eleger o presidente do partido em Pernambuco, como já era esperado, mas foi derrotado em municípios da Região Metropolitana do Recife.
Humberto perdeu em Olinda, Paulista, Camaragibe, Abreu e Lima, Igarassu e Itamaracá. Ganhou em Ipojuca, onde tem o apoio da vice-prefeita Marinalva do Santos.
Em Olinda, a derrota teve peso por conta do perfil dos postulantes à presidência. O eleito foi Hélder Pires, assessor da senadora Teresa Leitão. Ele ganhou de Vivian Farias que, por mais de uma década, foi assessora de Humberto Costa e chegou a exerceu função na Fundação Perseu Abramo, por indicação dele.
O senador deixou passar a oportunidade de fortalecer uma maioria negociada. A eleição do deputado Carlos Veras como novo presidente do PT teve o apoio de Humberto, é verdade, mas também de outros parlamentares.
Vale lembrar que, inicialmente, o candidato de Humberto era Sérgio Goiana, secretário-geral do PT e articulador político do senador.
Carlos Veras foi, então, incentivado a pôr o nome à disputa por setores e lideranças da Construindo um Novo Brasil, como forma de viabilizar um candidato da tendência de Humberto, mas que não fosse 100% humbertista. E assim aconteceu.
Este revés, porém, não deve comprometer o espaço de Humberto na eleição ao Senado em 2026. Ele segue sendo o nome do partido e anda uma casa em direção a uma eventual chapa com o prefeito João Campos (PSB) ao governo.
Se um lado perde, o outro ganha
E foi o da senadora Teresa Leitão. Humberto foi suplantado também na “capital do Agreste”. A margem de votos foi pequena (307 contra 292). Mas a derrota foi expressiva, porque o senador disputou com o apoio do MST. Caruaru é onde está localizado o Assentamento Normandia.
Humberto e Teresa foram ligados politicamente por anos, quando ela era deputada estadual. Mas se afastaram, e Teresa fundou o coletivo PT Militante. Depois que ela foi eleita senadora, os dois passaram a ser grandes demais para caberem no mesmo grupo.
Ambos têm personalidades fortes e, por um aspecto, é até natural que cada qual busque se afirmar como pólo. A senadora vibrou com o fato do resultado ter sido-lhe favorável. E também por ter vencido na sua cidade, Olinda.
Em Petrolândia, dirigente do Sintepe é eleita
No Sertão do São Francisco, no município vizinho a Floresta, quem ganhou a disputa para a presidência foi a professora Raiane Sales. Ela venceu a candidata do MST. A docente é ligada politicamente à presidente do Sintepe, Ivete Caetano, e à senadora.
Desorganização marcou o PED
Informações importantes, como lista de filiados aptos a votar, só foram disponibilizadas na noite de sábado (5). Até o final da noite de domingo (6), apenas cerca de 25% dos votos do Recife haviam sido apurados. Um dos motivos dessa desordem foi justamente a disputa intensificada entre os vários agrupamentos políticos.
Recife, um capítulo à parte
O vereador Osmar Ricardo foi o eleito para a presidência do PT na capital pernambucana. Ele contou com o apoio de Teresa e do prefeito João Campos (PSB), por meio de Oscar Barreto, que é secretário de Meio Ambiente da cidade.
No Recife, a avaliação era a de que a derrota de Humberto era inevitável, por conta da força dos irmãos Oscar Barreto e Osmar Ricardo aliados a Teresa. Mesmo assim, há quem acredite que o senador errou na leitura política.
Ele perdeu bancando o ex-vereador do Recife Jairo Brito (cunhado do ex-prefeito João da Costa), quando poderia ter apoiado o professor Pedro Alcântara e fortalecido o debate sobre autonomia e protagonismo do PT no Recife.
Mas Jairo e João da Costa tinham alguma base a oferecer. Humberto teria preferido isto a uma candidatura ideologicamente mais firme.
O vereador Osmar Ricardo contou com o apoio de João Campos (PSB). Mas a eleição passou também pelas relações políticas e pessoas do próprio Osmar. Tanto é que ele teve o apoio do vereador Davi Muniz e do ex-vereador Doduel Varela. O primeiro é filiado ao PSD; o segundo, da assessoria especial da Casa Civil do governo Raquel Lyra.