No ato da Avenida Paulista neste domingo (29), o governador de São Paulo pediu “paz, justiça e anistia”, parafraseando o lema que tem sido usado por grupos como o PCC e o Comando Vermelho.
Com a iminência da prisão de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos) só fez trocar “liberdade” por “anistia”, que é mais abrangente. Significa fora da prisão e de volta ao processo eleitoral.
Neste ponto, porém, acredito que Tarcísio de Freitas mente.
No atual contexto, não há político no mundo que seja mais beneficiado com a prisão de Bolsonaro do que o número 01 da linha de sucessão do bolsonarismo, que é o governador de São Paulo hoje.
Com Bolsonaro preso por ter tentado golpe de estado, fica livre a pista para Tarcísio alçar o voo maior de disputar a Presidência da República, livre também da acusação de traição ao padrinho político.
E o jogo se inverte: em vez de Tarcísio depender de Bolsonaro, é Bolsonaro que passa a depender de Tarcísio, na esperança de um indulto presidencial. Mesmo que isso signifique desfazer a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Nesse balaio de gatos que é o bolsonarismo, Tarcísio não é o preferido por todas as alas. Mas tem o apoio de setores fortes da política e economia. O restante chegaria a ele por gravidade, empurrado pelo sentimento anti-Lula.
Acompanhei o ato da Paulista pela transmissão ao vivo. De forma geral, o ato se mostrou semelhante aos anteriores.
Três conclusões são possíveis de tecer.
Bolsonaro segue com o discurso golpista, até porque sabe que vai ser condenado, e precisa se consolidar como liderança injustiçada. Seu plano é concentrar o máximo de poder simbólico em torno de si e da família até as eleições.
A extrema-direita quer fazer do Senado o ninho do bolsonarismo a partir de 2027, quando a Casa será renovada em dois terço (54 das 81 cadeiras).
Tarcísio calibrou nos elogios a Bolsonaro como forma de lidar com a pressão da ala golpista declaradamente mais radical, que recentemente cobrou um pacto dos governadores pré-candidatos em torno de um indulto presidencial.
Entre um banditismo e outro, o ato da Avenida Paulista evidenciou, mais uma vez, que o lema que sustenta os discursos tem significado próprio. Não pretende traduzir ou espelhar, de fato, a realidade. Mas sim dialogar com o grupo para o qual é feito.