Empresário de uma banda de forró, o ex-ministro de Bolsonaro Gilson Machado terá um São João diferente este ano. Bem mais restritivo. Não subirá aos palcos com a Brucelose; nem participará da festa no interior. Também não poderá fazer política. Não haverá sanfona, nem bandeira do Brasil. 

O motivo: está em liberdade provisória e precisa cumprir cinco medidas cautelares. Uma delas é a proibição de deixar a comarca. 

As outras quatro são: apresentação quinzenal à Justiça; cancelamento do passaporte; proibição de deixar o país e não fazer contato com os investigados.

Falo neste texto das medidas cautelares, pois elas confrontam a alegação apresentada pelo político, na saída do Centro de Triagem, de que tudo não passou de um mal entendido. 

Gilson disse que o contato com o Consulado Português foi para renovar o documento para seu pai, um senhor de idade. Não havia, portanto, tentativa de obter passaporte para que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid fugisse do país.

Mas não é bem assim…

Os indícios que deram fundamento à decisão judicial permanecem, tanto é que o ex-ministro está em liberdade provisória, com cinco medidas cautelares contra si.

A revogação da prisão de Gilson no mesmo dia da decretação, pelo mesmo juiz que a determinou, pode ter deixado as coisas um pouco confusas para quem não entende bem questões processuais.

Em paralelo a isso, a frente bolsonarista propagou a narrativa de que aquela prisão havia sido mais um abuso da “ditadura do STF” e o tirano Alexandre Moraes; e que sua revogação era um reconhecimento disso. 

Também não é bem assim…

O ex-ministro foi detido na manhã de sexta-feira (13) em casa. De lá, foi levado à superintendência da Polícia Federal, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, sem ter tido sua imagem exposta na mídia. 

Zero espetacularização, como lhe é de direito.

Da sede da PF, Gilson seguiu para fazer exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML). Restou provado que não sofreu qualquer agressão física.

Zero esculacho, como lhe é de direito.

No Centro de Triagem (Cotel), no município de Abreu e Lima, ele passou algumas horas em cela separada, para a garantia da sua integridade física. Poucas horas depois, já de noite, deixou a unidade. 

Desde o momento da sua prisão, o ex-ministro de Bolsonaro pode manter contato com e ter o acompanhamento de seu advogado. Outro direito que lhe foi devidamente assegurado.

Acontece que Gilson Machado permanece como suspeito de praticar o crime de obstrução de investigação. A apuração contra ele foi um pedido da PF. Celular, carro e outros pertences do ex-ministro de Bolsonaro foram apreendidos. 

No entender do ministro Alexandre Moraes, a prisão não era mais a medida necessária para impossibilitar a obstrução à investigação. Outra medida que não tem espaço nas ditaduras, onde pessoas simplesmente desaparecem.